O treinador de futsal


A necessidade de estudos científicos na área do esporte de alto nível, passa no momento atual a assumir um papel de extrema importância na medida em que os envolvidos nesta prática necessitam cada vez mais de subsídios teóricos que embasem a metodologia do treinamento nos aspectos técnicos, táticos, físicos, psicológicos, entre outros tantos relativos a saúde.

Observa-se que as grandes equipes se encontram numa igualdade em termos técnicos, táticos e físicos, sendo talvez a parte psicológica o diferencial nos grandes momentos decisivos.

No âmbito do esporte de competição é possível identificarmos uma série de variáveis psicológicas que podem contribuir ou prejudicar as equipes. Uma delas é a liderança assumida pelo treinador com seus atletas, onde poderá ter uma influência positiva ou até mesmo negativa dificultando aos mesmos atingirem o máximo de suas capacidades.

Os treinamentos são diários e sacrificantes, viagens, jogos, vitórias e derrotas, fazem parte do cotidiano destes atletas de alto- rendimento. Existem as cobranças da torcida, da mídia, da família, dos dirigentes e muitas vezes do próprio treinador, para que os mesmos atinjam os resultados positivos nos jogos. No meio esportivo, dizemos "temos que matar um leão a cada dia". Esta frase mostra o preparo individual e coletivo que devem se fazer presente na equipe.

A liderança exercida pelo treinador poderá ser decisiva nas conquistas, pois este deverá ser o ponto de equilíbrio para todo o grupo. Muitas vezes afirmamos que a equipe é a cara do treinador. Uma das funções mais importantes na manutenção do equilíbrio e da dinâmica de um grupo está no papel de técnico.

O estudo de Brandão e outros (2002), ao analisar o estado emocional de técnicos brasileiros, observou que  quando comparados aos seu atletas, os mesmos são mais tensos, raivosos e mais fatigados e têm mais disposição e energia.  Estes dados são compatíveis com a literatura, pois o técnico desportivo deve cumprir muitos papéis dentro de uma gama de atividades, sendo a profissão altamente estressante o que implica em ter, dentre outras coisas, uma força de vontade elevada e habilidade para exercer influência sobre os demais.

As pesquisas nos indicam também que cada equipe necessita de um perfil de treinador. Um grupo jovem e outro mais experiente, o momento, entre outros aspectos, pode influenciar no estilo de treinador mais indicado.

O propósito deste artigo é de contribuir com uma revisão literatura sobre aspectos que envolvem o treinador, sua liderança e a relação com o grupo de atletas.

O Treinador
É o especialista mais próximo dos atletas, exerce influência no comportamento dos mesmos, por vezes é técnico, educador, conselheiro, estrategista e líder;

Ser treinador é uma função que constitui em si de um permanente desafio e que exige um empenho pessoalmente gratificante.

Para alguns é a função mais ingrata do esporte, se a equipe perder, o treinador é geralmente o responsável. A respeito disto, Becker Júnior (2000), relata que um dos fatores importantes no ambiente esportivo é que cada torcedor, por menor que seja a sua escolaridade ou experiência na área, acredita que sabe tudo sobre a matéria e ainda da arte de treinar.

Assim, cada torcedor opina, julga e critica abertamente o treinador de sua equipe, sempre que esta é derrotada. Não obstante ainda, como bem cita o ex-treinador da Seleção Brasileira Vieira (1987), na maioria dos casos para levar a cabo a sua tarefa, ele é o presidente do clube, diretor de esporte, roupeiro, pai, psicólogo, conselheiro social e líder.

Nesta mesma visão Zilles (1999), em curso para professores, afirma que o treinador deve ser o grande líder e disciplinador da equipe, para poder comandar de forma correta os seus jogadores durante os treinos e jogos. Ele deve também ser didático, para saber planejar os seus treinamentos adaptados a idade de seus atletas e as qualidades por eles reveladas. 

Martens e colegas (1995), afirmam que um treinador com êxito deve ter um conhecimento das ciências do esporte, motivação e empatía. Citam ainda, como aspectos importantes à facilidade de comunicação e os princípios de reforço positivo para com seus atletas.

As funções do treinador, segundo o ponto de vista de Zilles (1999), seriam comandar os treinos (táticos, técnicos, dois toques, coletivo e recreativo), dar preleção antes do jogo, comentários após os jogos, se possível estudos sobre futuros adversários, uma supervisão junto aos seus atletas em relação à disciplina dentro da quadra de jogo, uma supervisão junto aos seus auxiliares (comissão técnica) e um acompanhamento superficial da vida de seus jogadores fora do seu ambiente de trabalho.

Smoll (1988), relata alguns pontos que deve-se recordar e por em prática. São eles: os treinadores são professores; os treinadores têm como tal de utilizar um estilo positivo de intervenção no treino; este estilo baseia-se em elogios e encorajamentos no sentido de favorecer o comportamento desejado e de motivar os jogadores a realizá-lo; elogiar tanto o esforço par alcançar um objetivo, como o bom resultado em si; ao dar indicações técnicas para corrigir um erro, deve-se ao começar por realçar algo que tenha sido bem executado.

Devido às suas características pessoais, experiências e formação profissional os treinadores segundo Carraveta (2002), apresentam diferentes manifestações de comportamento. Alguns são pontuais,  disciplinadores, autoritários ou exigentes; outros são organizados, valorizam os aspectos pedagógicos e metodológicos, respeitam as regras morais e éticas. Por outro lado existem outros extremamente liberais, são exclusivistas, intuitivos, são vaidosos, não aceitam opiniões, o vencer está acima dos preceitos éticos.

Tutko (apud De Abreu, 1993) estabelece e avalia pelo menos cinco categorias gerais do treinador:

Treinador autoritário

Este tipo de treinador tem várias limitações, por exemplo: seu juízo nem sempre é acertado e seu código pessoal, algumas vezes, não vê outras soluções possíveis aos problemas individuais ou da equipe.

Características:
- crê firmemente na disciplina;
- com freqüência, usa medidas punitivas para reforçar as regras;
- é rígido com os programas ou planos;
- pode ser cruel ou sádico;
- não gosta de uma relação interpessoal íntima;
- com freqüência, é religioso e moralista;
- usa ameaças para motivar os atletas. 

Treinador flexível

As características desse tipo de treinador são opostas às do treinador autoritário. O flexível é agradável aos demais e está profundamente preocupado com o bem-estar de seus atletas. Inspira respeito, por razões extremamente diferentes das razões do treinador anterior. É popular e sociável.

Características: geralmente, relaciona-se muito bem com as pessoas; usa meios positivos para motivar os atletas;  é muito complacente na planificação; com freqüência, é experimental.

Treinador condutor
 Em muitos aspectos este tipo de treinador tem traços de treinador autoritário. É similar na ênfase à disciplina, na força de vontade e na sua agressividade. Diferencia-se do treinador autoritário, pois é menos punitivo e mais emocional. 

Características:  está freqüentemente preocupado;  recebe os problemas de forma pessoal;  investe intermináveis horas no material didático;  sempre exige mais do atleta;  motiva os atletas com seu exemplo.

Treinador pouco formalista
 É exatamente o oposto do treinador autoritário. Aparenta não sofrer nenhum tipo de pressão. Para ele, tudo não é mais do que um desporto interessante, o qual se tem prazer de ganhar.

Características: não parece levar as coisas a sério; não gosta dos programas; não fica nervoso com facilidade; dá a impressão de que tudo está sob controle. 

Treinador Formal ou Metódico
Esse tipo de treinador aparece com mais regularidade na cena desportiva. Em geral sempre está interessado em aprender, raras vezes é egoísta e poucas vezes crê ter todas as respostas. Este treinador ultrapassa os demais em técnicas e habilidades para adquirir conhecimentos. Como o treinamento está se convertendo cada vez mais em uma ciência exata, usa todos os meios para acumular informações acerca de seus oponentes.

Características: aproxima-se do esporte de forma calculada e bem organizada; é muito lógico em seu enfoque; é frio em suas relações pessoais; possui alto nível intelectual; é pragmático e perseverante.

Outra classificação apresentada na literatura é a de Martens e colegas (1995), onde citam três estilos de treinador. O estilo autoritário, que toma todas as decisões, sendo a missão dos atletas cumprir as ordens do treinador.

O estilo submisso, caracteriza-se por um treinador imprevisível, que hora se abstém e em outros momentos pode tomar decisões. E por fim, o estilo cooperativo, indicado como o estilo ideal pelos autores, onde os treinadores compartilham com os atletas as responsabilidades e a tomada das decisões.
Dando continuidade a seguir será discorrido a relação do treinador com o jovem atleta.

 O Papel do Treinador na Participação do Jovem no Esporte

O treinador esportivo de crianças desempenha um papel central e decisivo no desenvolvimento esportivo da criança. Esta função a ser desempenhada é das mais difíceis, mas também pode ser das mais gratificantes.

O relacionamento entre o professor- aluno ou treinador- atleta é um dos pontos mais importantes do processo de formação do indivíduo. Os treinadores, dentro deste processo de relação, desempenham papel de pai, amigo, conselheiro e, para muitos, de ídolo e de exemplo de vida. Para tanto, o treinador deve ser um exemplo dentro e fora da quadra.  

Tutko (apud De Abreu, 1993) sustenta que existe uma grande variedade de personalidades na profissão de treinador. Os sentimentos como desgosto, glória e êxito na relação do treinador com o atleta, produzem uma atmosfera na qual ele pode se converter num influente construtor do caráter ou num modelador da personalidade do praticante. 

Os treinadores sabem que muitas conquistas e vitórias caem no esquecimento, o que prova que não é o triunfo que conta, e sim a forma como foi obtido (Almeida, 1998).

A este respeito, podemos acrescentar as seguintes palavras. (Guilherme, A., 1975, p.5 )  "o treinador deve-se conduzir de tal modo que sirva aos praticantes de ontem como uma recordação  agradável de sua juventude; aos praticantes de hoje, como um exemplo de sacrifício, de dedicação e de dignidade, e aos praticantes de amanhã, como uma esperança a mais em seu futuro". 

Cabe destacar as afirmações de Counsilman (1984), onde sustenta que, no período crucial de incrementar o estímulo competitivo, o jovem precisa de um mestre compreensivo que demonstre algo mais do que capacidade de organização e conhecimentos de mecânica dos movimentos - por mais essenciais que sejam tais fatores, para um técnico eficiente. Um técnico de grupos jovens, na concepção do autor, deve ser selecionado, não por ser ambicioso ou conseguir bons resultados, mas principalmente por saber compreender os jovens e conduzi-los.

Para Hahn (1988), o treinador é o elo da união entre a criança e o esporte. O autor deixa claro que a responsabilidade pedagógica do treinador é mais importante que seu papel na direção do treinamento tecnomotriz, ao basear-se no princípio de que as falhas elementares nunca se superam totalmente durante os primeiros processos de treinamento.

O mesmo autor adverte que os treinadores necessitam uma teoria de treinamento com crianças, e que, se por um lado, buscam a evolução objetivada do rendimento, por outro, devem levar em conta as necessidades e os interesses da criança.

De acordo com a sua personalidade, o técnico pode agir e ser visto diante da sociedade de várias maneiras. Hendry (apud Cratty, 1983) em suas pesquisas, segundo depoimentos de atletas e demais técnicos, encontrou que o técnico ideal seria aquele indivíduo estável, sociável, criativo, inteligente, que assume riscos calculados, confiante e seguro. Aquele que poderia tranqüilamente manter o controle em situações tensas e adversas, presentes no esporte.

A interação entre técnicos e atletas vai depender principalmente das necessidades e personalidades dos envolvidos; o que pode influenciar a performance do atleta, tanto positivamente como negativamente, quando não existir correspondência com as necessidades requeridas ou sobrarem estímulos inadequados (Machado, 1997).  

Outro ponto extremamente importante que o treinador de jovens deve estar atento, é a relação que o mesmo deverá ter com os pais. Muitas vezes na angustia de satisfazer seus próprios desejos de infância ou ao projetar em seu filho um futuro promissor no esporte, os pais exercem uma pressão muito grande na criança e até mesmo por vezes acabam atrapalham toda metodologia do professo/treinador (VOSER, 1999). Para tanto, se faz necessário que realizemos eventuais reuniões com os pais para apresentar a proposta metodológica do trabalho a ser desenvolvido, bem como a importância deles dentro deste processo.

O Treinador e o seu Trabalho em Equipe

Como o treinador poderá obter desempenhos elevados e evitar o estresse no relacionamento com o grupo?

O treinador é o líder, e para tanto deverá ser o condutor e articulador das relações entre os atletas de sua equipe. Ser líder é saber lidar com as diferenças no grupo e não tornar todos iguais. (FRANCO, 2000) Barrow (1997), citado por Gould e Weinberg (2001), afirma que a liderança poderia ser considerada de forma genérica como sendo o processo comportamental de influenciar indivíduos e grupos na direção de metas estabelecidas.

Trabalhar em equipe aumenta a auto-estima das pessoas envolvidas, pois a discussão e a decisão relativas a problemas importantes invocam poderosas forças individuais de auto-expressão e de autodeterminação. O significado das decisões tomadas pela equipe, para seus participantes, é um dos fatores decisivos nas questões relacionadas à satisfação no trabalho e ao aumento da produtividade da equipe.

Conforme  Jackson e Hugh Delehanty (1997), no livro Cestas Sagradas ao relatar sua vivência no basquete, coloca que a luta que todo treinador enfrenta é fazer que os membros da equipe, que em geral buscam glória individual, entreguem-se inteiramente ao esforço grupal.

Gould e Weinberg (2001) afirmam que os técnicos que são bons  lideres, fornecem não apenas uma visão daquilo pelo que se luta, mas também a estrutura, a motivação e o apoio do dia-a-dia para transformar a visão em realidade.

A prática tem nos mostrado que a maioria das equipes vencedoras se caracterizam pela força do grupo, pela união e superação. Muito grupos, inclusive, crescem no momento das dificuldades e adversidades.

Por outro lado, trabalhar em equipe é também algo complicado, pois compor um grupo significa colocar em cena, para atuação produtiva conjunta, diferentes personalidades, histórias de vida, experiências, competências, visões de mundo e graus de conhecimento.

Neste sentido, Gould e Weiberg (2001), relatam que as pesquisas revelaram que vários fatores pessoais e circunstanciais afetam o comportamento do líder no esporte e na atividade física. Esses antecedentes incluem particularidades como idade, maturidade, sexo, nacionalidade e tipo de esporte.

As conseqüências do comportamento podem ser vistas em termos da satisfação, do desempenho, e da coesão do grupo. Por exemplo, a satisfação dos atletas é alta quando há um bom casamento entre seu estilo de treinamento preferido e o estilo do treinamento real do técnico.

Para avaliar e medir os comportamentos de liderança, incluindo as preferências dos atletas por comportamentos específicos, as percepções dos atletas dos comportamentos dos seus técnicos e as percepções dos técnicos de seu próprio comportamento, Chelledurai e Saleh (1980) criaram um instrumento chamado Leadership Scale for Sports – LLS

Segundo sua escala pode-se verificar:
1. Conduta Educativa: Conduta do treinador dirigida a melhorar a execução dos desportistas por meio da insistência e facilitação do treinamento exigente e duro, instruindo-lhes nas técnicas e táticas do esporte, clareando as relações entre os componentes da equipe, estruturando e combinando as relações dos mesmos.
2. Conduta Democrática: Conduta do treinador que concede grande participação dos desportistas nas decisões concernentes às metas do grupo, os métodos práticos, as práticas e as estratégias de jogo.
3. Conduta Autocrática: Conduta do treinador que inclui independência nas tomadas de decisões e enfatiza a autoridade pessoal.
4. Conduta de Apoio Social: Conduta do treinador caracterizada por uma preocupação individual pelos desportistas, pelo seu bem estar, por um ambiente positivo para o grupo e pelas relações afetuosas com os componentes do mesmo.
5. Conduta de Feedback Positivo: Conduta do treinador que inclui a aplicação de reforços a um desportista como um reconhecimento e recompensa por uma boa atuação.

Como foi possível observar na literatura é de extrema importância a liderança do treinador no comando de sua equipe de trabalho, de modo a contribuir decisivamente para que as suas ações sejam harmônicas, e facilitadoras a conquista dos resultados no dia-a-dia no meio esportivo.


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