O exercício físico pode ser classificado de acordo com a intensidade do esforço como: leve, moderado e intenso. Essa classificação toma como base a realização de alguns testes de esforço máximo para avaliar a concentração de lactato no sangue, o consumo máximo de oxigênio (O2max), e/ou a freqüência cardíaca máxima (FCmax).
O efeito de um exercício físico agudo (carga súbita de esforço físico) sobre as células do sistema imunológico já está bem estabelecido(6,9,37-39). Diferentes tipos e cargas de esforço podem ter repercussões distintas no sistema imunológico. O exercício moderado parece melhorar os mecanismos de defesa do organismo, enquanto que o exercício intenso parece enfraquecê-los(9-10,37).
Essa queda da imunidade ocorre porque ela diminui nos músculos a glutamina, um aminoácido não essencial que tem um fluxo direto e contínuo dos músculos para o fígado, intestino, rins e sistema imunológico. Como o sistema imunológico necessita de muita glutamina para a manutenção de suas funções, e o exercício físico induz o aumento da atividade dessas células
Em resposta a um exercício físico intenso ocorre neutrofilia, linfopenia e monocitose(7). A redistribuição destas células no compartimento vascular em resposta ao exercício parece ser mediada pela adrenalina, e em menor grau pela noradrenalina(29,33,40-41). A expressão de b-receptores nas diferentes células imunes pode fornecer a base molecular para ação das catecolaminas(11). Contudo, a densidade de receptores adrenérgicos e a eficiência do sistema de transdução AMPc diferem nos vários tipos de células imunocompetentes(42-43). Os neutrófilos e as células NK parecem apresentar maior número de receptores, sendo seguidos, por ordem decrescente, pelos linfócitos TCD8+, pelos linfócitos B e, finalmente, pelos linfócitos TCD4+(22,42,44).
O exercício físico intenso pode induzir inibição de muitos aspectos da defesa do organismo, incluindo a atividade das células NK, a resposta proliferativa dos linfócitos e a produção de anticorpos pelos plasmócitos(3,7,18,45). Estas alterações comprometem a defesa do organismo contra agentes infecciosos e oncogênicos, assim como nos processos alérgicos e na auto-imunidade(10,31). Gillis et al.(46) observaram inibição na produção do fator de crescimento de linfócitos T induzida pelo aumento de glicocorticóides. Woods et al.(47) verificaram diminuição na produção de superóxido por macrófagos peritoneais de ratos em resposta a uma carga intensa de exercício físico. Estes estudos suportam o conceito de imunossupressão induzida pelo estresse, pois, conforme referido acima, os linfócitos e os macrófagos atuam, de forma determinante, contra a carcinogênese e a auto-imunidade.
Por outro lado, o exercício físico moderado parece estar associado ao aumento da função de leucócitos. Muitos pesquisadores verificaram que o exercício físico moderado auxilia a quimiotaxia, desgranulação, fagocitose e atividade oxidativa dos neutrófilos uma hora após exercício físico a 60% O2máx(6,48-50). Woods et al.(47) verificaram aumento da aderência, a produção de ânion superóxido, a taxa de metabolismo do nitrogênio, a atividade citotóxica e a capacidade fagocítica de macrófagos. Pedersen e Tvede(51) estudaram a resposta das populações de linfócitos em ciclistas dinamarqueses durante uma hora de exercício físico e verificaram aumento na atividade citolítica de células NK e da linfocina ativadora de células NK (LAK). Recentes estudos relatam que não ocorre alteração na concentração salivar de IgA e de IgE, no soro, durante um exercício moderado(42,52-54). De fato, já é bem estabelecido que o exercício físico moderado está associado ao aumento da função imunológica e a diminuição da suscetibilidade às doenças(55). Diante de tais evidências, é plausível estabelecer um elo entre o treinamento físico de intensidade moderada e as alterações ocorridas no sistema imunológico.
Ao contrário da grande quantidade de estudos realizados com exercício físico agudo, os relatos sobre a relação entre o treinamento físico e o sistema imune são poucos. É difícil controlar variáveis intervenientes como a dieta dos atletas, o período de competição, as viagens e o estresse psicológico, que podem, de forma independente, influenciar a função do sistema imune.
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