Treinamento de recepção Voleibol





    O voleibol no Brasil sofreu com a distância dos grandes centros desenvolvidos do Voleibol mundial, Europa e Ásia. As informações chegavam com atrasos e até mesmo, ocorreu de o Brasil chegar a uma competição mundial sem conhecer o fundamento técnico da recepção, denominado de Manchete, isto aconteceu no Campeonato Mundial adulto masculino de 1964.

    A equipe brasileira comandada na época pelo professor Sami Melinski, treinador que conquistou todos os títulos para o Brasil a nível mundial na época, conheceu e treinou pela primeira vez a Manchete um dia antes do campeonato mundial (RIZOLA, 2003).

    A recepção do saque nos tempos inicias do Voleibol era feita apenas com o toque por cima da cabeça, pois na época o saque não tinha tanta força e precisão, mas tomou outra proporção, quando este fundamento passou a ser trabalhado com o objetivo de maximização da técnica e da tática. Surge então a manchete, devido a necessidade de dominar a recepção (RIZOLA, 2003).

    Segundo Alberta (1998) e Murpy (1991) o sucesso do ataque no voleibol esta interligado com a qualidade da recepção. Assim o levantador terá uma gama maior de opções para distribuir o jogo e dificultar a ação do bloqueio adversário. Todavia a obtenção de eficácia esta dependente da qualidade de execução das habilidades técnicas neste momento do jogo, nomeadamente da manchete (MESQUITA, 1998).

    A aprendizagem dos esportes tem acontecido, na sua grande maioria, pela repetição de gestos técnicos e cópias de treinamento de equipes adultas. Báfero (1996, p.26) diz que: "A maioria das "escolas" de voleibol, fundamentadas na cultura do voleibol brasileiro, proclamam que "saber voleibol" é jogar como se joga no alto nível." No trabalho desenvolvido visou-se a adaptação dos exercícios para cada situação de jogo, e não com a repetição dos gestos isolados, a variedade de estímulos deve ser feita durante cada sessão de treinamento.

    Kaplan (1974) relembra, uma nova etapa para o Voleibol mundial se abriu, justamente antes da Olimpíada de Tóquio quando a defesa baixa (manchete) passou a ser uma forma fundamental do jogo. Isto causado pelo efeito do saque.

    Fiedler (1976), divide a recepção em 3 fases, os movimentos de que antecedem o contato com a bola, movimentos no momento do contato com a bola e os movimentos após o contato com a bola, valorizando todos na mesma proporção e importância.

    Slaymaker e Brown citados por Báfero (1990), quando mencionam as habilidades do Voleibol, dividem em dois grupos: os de habilidades iniciais e os de habilidades avançadas. As primeiras compreendem o toque, a manchete, o recurso (dig-pass), o saque por baixo, o saque por cima, a cortada e o bloqueio. O segundo grupo compreende o saque flutuante, o levantamento para trás, o levantamento em suspensão, o mergulho, o rolamento, a manchete invertida, a largada e as mudanças do ritmo das cortadas.

    Especialistas em Voleibol concordam, que a habilidade da Manchete é responsável pela maior consistência de jogo atualmente, isto é, maior tempo de disputa do ponto com a bola no ar (SCATES, 1972; GUILHERME, 1978; VELASCO, 1996, MESQUITA, 2002).

    Sobre o uso da manchete, Cherebetiu (1969), Writehall (1964) citado por Báfero (1996) e Bizzocchi (2000) colocam que o uso original era apenas com propósitos defensivos, usados como recurso emergencial. Hoje é um fundamento básico e específico, que merece estudo diferenciado em função da sua constante solicitação, sendo parte integrante do repertório motor do atleta.

    O que é específico é exclusivamente próprio a alguma finalidade, e a finalidade do movimento da manchete no Voleibol é receber e passar a bola para um lugar pré-fixado (BÁFERO, 1996).

    Segundo Velasco (1996), o recebedor deve ter como principal característica uma superfície de apoio, a maior possível, colocando e enfatizando a habilidade espaço-temporal: o problema não é tanto pelo deslocamento, mas sim entender ou avaliar bem, aonde vai a bola.

    O mesmo autor lembra que, na correção da técnica não se deve treinar todos os jogadores da mesma maneira, e como exemplo cita que em recepção x saque ao invés de trabalhar 40´ de forma analítica, trabalha-se 10' a 15' analítico para que o jogador fixe o movimento técnico e imediatamente após, o saque x recepção em situação de jogo.

    A analise da trajetória da bola é ponto fundamental na qualidade e eficiência de uma boa recepção. A antecipação da ação de receber o saque possibilita a atleta definir a velocidade de sua ação e com melhor equilíbrio, uma precisão melhor.

    Paolini (2001), cita que a posição de expectativa deve ser baixa, mas não definida para receber somente um tipo de saque, para receber é necessário deslocar-se rapidamente e, sobretudo em antecipação, para poder avaliar previamente a trajetória do saque adversária atleta deve ser capaz de estabelecer a profundidade e a força da bola, e isto está relacionado com uma boa visão.

    Estabelecendo que, os elementos que distinguem uma correta execução técnica de recepção de saque flutuante (floating) podem ser sistematizadas em 4 pontos essenciais (PAOLINI, 2001):

a predisposição morfológica;

o deslocamento;

o contato com a bola;

o modo de empurrar a bola.

Objetivo

    A proposta deste trabalho é propor uma metodologia de treinamento para o fundamento de recepção de saque no voleibol para jovens atletas.


Treinamento da recepção

    O jogo é elemento central na aprendizagem, deverá por isso estar sempre presente em cada faixa etária no treinamento e ser organizado de modo tal, que todos os que participam devem tocar na bola o maior número possível de vezes. A recepção do saque é durante o treinamento um dos pontos de maior atenção. O Voleibol do Brasil é carente de atletas que o executem a recepção permanecendo em boas condições de equilíbrio para realizar um ataque, também pela representação que tem o fundamento na continuidade e na organização do jogo.

    A aplicação do método global no treinamento objetiva recriar situações de forma semelhante àquelas dos jogos, não para treinar a equipe na sua coletividade e sim visando treinar melhor e de forma mais veloz todas as técnicas do voleibol. Desta forma o jogador se adaptará imediatamente durante o jogo, as situações treinadas durante a semana. De outra forma a passagem da situação treinada àquela que se apresenta no jogo, solicitaria muito tempo de treinamento. A teoria do treinamento global, todavia apresenta problemas, isto é, se começa a treinar uma situação de jogo e se transgride nos problemas técnicos. Sobretudo na sua correção, ou quando se corrigi, se arrisca de faze-lo somente em situação analítica.

Treinamento da técnica

    O recebedor deve ter como característica uma boa superfície de apoio, a maior possível, executa-se trabalhos utilizando como recurso a parede. A atleta se posiciona diante de uma parede de superfície plana e realiza a manchete, com alternância de altura da bola, distancia da parede e velocidade da bola. No programa aplicado estes trabalhos eram realizados em uma freqüência semanal de três vezes no primeiro mês, e duas vezes por semana na continuidade do treinamento.

    O problema na recepção de saque não é tanto pelo deslocamento, mas sim, entender ou avaliar bem, aonde vai e como é a trajetória da bola. Desta forma dedicou-se um trabalho específico para a avaliação de trajetória de saque. As variações são executadas primeiro com o saque dos treinadores, em distancias alternadas, em planos superiores e em velocidade alternadas, e em outro momento com o saque das próprias atletas. No procedimento de correção da técnica não se deve treinar todos os jogadores da mesma maneira. A individualização do treinamento fez-se necessária e os exercícios devem apresentar graus de dificuldades diferentes para cada atleta.

Treinamento tático

    As novas táticas de saque (saque partindo de qualquer ponto de fundo quadra) a partir de 1994 promoveram uma grande alteração no sistema de recepção.

    A proposta apresentada consiste em empregar a estrutura de três passadoras nas seis posições. As passadoras foram as jogadoras atacantes de ponta e a líbero, tendo como opção a jogadora oposta para algumas situações de jogo. A recepção com quatro atletas foi utilizada quando, nosso adversário utilizasse um saque em salto (tipo viagem) com força e eficiência.

    Nos treinamentos técnico-táticos foram treinadas além da parte técnica a relação entre as jogadoras da posição 6 e 1 e das posições 6 e 5, alternando as atletas.

    Numa mesma sessão de treinamento a recepção deve ser treinada de forma variada, para que haja uma boa adaptação das atletas as situações solicitadas no jogo. A atleta deve realizar gestos que serão aplicados no jogo, na cronologia da partida, tomando decisões conforme a situação solicitada. Os treinamentos devem ser realizados prevendo estas situações, tais como jogos de 1 x 1, atacante de fundo contra atacante de fundo após a recepção, obrigando a efetivação do ataque, independente do tipo de saque aplicado pelo adversário.

    A qualidade da recepção definirá a possibilidade do primeiro ataque da equipe e a velocidade do jogo. No período da tarde os treinamentos foram dirigidos para esta relação, ou seja, o treinamento das situações de jogo, com "jogos combinados", exercícios que proporcionam situações imprevistas e situações preestabelecidas de jogo.

    O ajuste da recepção dependendo da colocação do sacador adversário, e do tipo de saque, deve ser treinada em situações de continuidade de jogo. Uma das formas que podem ser utilizadas são os exercícios competitivos. Exemplo: Saque e Recepção 3 contra 3; duas equipes sendo uma em recepção e outra em saque. A equipe que saca efetua 20 saques, a pontuação para a equipe que recebe é feita a cada recepção perfeita ou a cada erro de saque do adversário, perdendo um ponto a cada "ace" do adversário. Após os 20 saques, troca-se de função, passando a equipe que sacou a receber e vice e verso. Vence o jogo, aquele que realizar maior numero de pontos em melhor de 5 sets.

    Nas partidas do Campeonato Mundial Juvenil, apresentaram-se situações de jogo, onde a tática de recepção foi modificada em função da eficiência do saque adversário. Optou-se pela inclusão da jogadora de saída de rede (oposta a levantadora) para receber o saque da equipe da República Tcheca, pois estas estavam dirigindo o saque nas jogadoras de ponta. Esta tática de saque estava atrasando o ataque e com nossa mudança a seleção brasileira retomou o controle do jogo.

Conclusão

    A base de uma boa recepção do saque, muitas vezes não está na qualidade técnica das atletas que fazem parte da recepção, mas de uma boa estrutura tática.

    A perfeição do gesto técnico não esta na biomecânica perfeita para a ação, mas na sua adaptação ao momento e às variações do jogo, ou seja, para cada situação existirá o gesto certo. Sendo o Voleibol um esporte de "situação", a manchete para recepção do saque, representa exatamente o que foi dito anteriormente.

     Um treinador de jovens atletas deve ter e dar o maior número e a qualidade de informações possíveis, para propiciar que a atleta desenvolva uma gama cada vez maior de atitudes motoras, representando assim uma forma de evolução.

    Na recepção, deve-se em primeiro lugar, definir as atletas que farão parte desta estrutura tática, observando os seguintes aspectos: qualidade técnica da execução da manchete, condições de adaptação ao esquema tático proposto, coragem, qualidade de deslocamentos.

Fonte


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