A importância do descanso no Futebol








Esse tema surgiu em uma discussão no Twitter. A pessoa que me perguntou, disse que não entendia porque jogador de futebol reclama que tem que jogar de três em três dias enquanto maratonista corria uma maratona nesse mesmo intervalo. Embora eu tenha pedido pra ele ler sobre sistema energético para poder entender o porque o descanso (e no caso do futebol preconiza-se 72 h) é tão primordial para a recuperação dos atletas de futebol. Se você quiser se aprofundar mais sobre o assunto, vai ter que ler sobre Ciclo de Krebs, ATP,  sistema anaeróbio alático, sistema anaeróbio lático, glicólise e a fosforilação oxidativa. Mas vamos a um resumo para se entender o porque a fadiga tem que ser evitada a todo custo para a boa performace do jogador de futebol profissional.

ATP-CP ou Fosfagênio - Energia imediata

Após a depleção do ATP o fornecimento de energia será atendido pelo sistema anaeróbico alático (sem acúmulo de ácido lático, inibidor da contração muscular), utilizando a CP (creatina fosfato) para a ressíntese do ATP. A CP é semelhante ao ATP por também possuir uma ligação de alta energia no grupo fosfato, representando a fonte de energia mais rápida a ser usada pela musculatura, por não depender de muitas reações químicas. A depleção dos estoques intramusculares de Fosfagênio ocorrerá após aproximadamente 10 segundos de exercício extenuante (> 100% do VO2 máx). Este sistema energético predomina em modalidades como 100 m rasos e piques no futebol.
Cada quilograma de músculo esquelético contém de 3 a 8 mmol de ATP e quatro a cinco vezes mais de CP. (Mcardle, Katch F. e Katck V.)

Glicólise Anaeróbia (Ácido Lático)- Energia a curto prazo

A depleção do Fosfagênio fará com que se faça o uso do sistema anaeróbio lático (com acúmulo de ácido lático), para a ressíntese do ATP. A Glicólise Anaeróbia provoca a quebra incompleta do carboidrato em glicose, podendo ser usado desta forma imediatamente ou armazenado no músculo e no fígado como glicogênio, para uso subseqüente. Quanto maior for a quantidade de glicogênio estocado, maior será a capacidade de resistir a exercícios de alta intensidade. O acúmulo de ácido lático causará a fadiga muscular, sendo necessário a utilização de oxigênio para fazer a remoção do lactato sanguíneo e conseqüente redução da intensidade do exercício. O fornecimento de energia através da Glicólise anaeróbia cessará após cerca de 1,5 ou 2 minutos de esforço intenso (entre 85 a 100% do VO2 máx.). O sistema glicolítico predomina em modalidades como 400m rasos no atletismo e 100m na natação.

Sistema Aeróbio - Energia a longo prazo

Com o fim da utilização predominante do metabolismo glicolítico (anaeróbio) - que acontece pelo acúmulo de ácido lático e não apenas pela depleção de carboidratos (glicogênio) - só o sistema aeróbio (dependente de O²) será capaz de fornecer o ATP necessário para exercícios de longa duração, já que o ácido lático sanguíneo não alcança níveis muito altos em ritmo estável (steady-state).
A partir dos 20 ou 30 minutos de exercício contínuo, o fornecimento de energia passa a ser feito também pelos ácidos graxos (gordura), começando então a queima de gordura propriamente dita. Essa demora é devida ao grande número de reações químicas que ocorrem durante o exercício aeróbio.

O ATP-CP e a Glicólise anaeróbia também participam no exercício de longa duração, porém só no início do exercício, onde se contrai um débito de oxigênio, antes de se alcançar um novo steady-state. Ao se elevar a intensidade do exercício, os fosfatos de alta energia e a glicólise anaeróbica entram em ação novamente. Os sprints dos maratonistas de elite no fim das provas explicam a reutilização do sistema glicolítico.

Em casos extremos de provas de resistência (dias de corrida), as proteínas podem exercer papel significativo na produção de energia, mas precisam primeiro ser transformadas em aminoácidos para serem absorvidas mais facilmente pelo organismo.

O futebol não é uma atividade que mantenha o corpo do atleta o tempo todo num mesmo sistema energético o tempo todo, diferente de uma maratona, que o aqtleta mantém quase o mesmo ritmo durante o tempo todo. Os piques, as corridas mais longas ou as mais curtas, utiliza os diferentes sistemas energéticos. O atleta de futebol está sempre querendo ultrapassar os limites pré estabelecidos pelo corpo e faz com que os sistemas energéticos trabalhem sempre acima do limite.

A fadiga está diretamente relacionada a um desajuste entre a velocidade em que o músculo utiliza a ATP e a velocidade com que ela pode ser suprida. Nem todo pique que um jogador de futebol dá, tem energia suficiente. Os mecanismos de fadiga muscular reduzem a velocidade de utilização de ATP mais rapidamente que a velocidade de geração de ATP para preservar a concentração de ATP e a homeostasia celular. Em si, a fadiga é simplesmente uma incapacidade de manutenção de produção de potência ou de força durante contrações musculares repetidas.O exercício de alta intensidade e de curta duração ou o exercício sub-máximo prolongado podem acarretar o declínio da produção de força muscular. Essa diminuição de produção de força muscular é conhecida como fadiga. Especificamente, a fadiga muscular é conhecida como redução da produção da força máxima do músculo e caracterizada pela capacidade reduzida de realizar um determinado trabalho muscular. A causa da fadiga muscular varia e depende do tipo de exercício realizado. Sabe-se ainda que a fadiga muscular será menor em indivíduos altamente treinados, devido a adaptação muscular, que favorece melhores rendimentos, mas também porque o processo de treinamento físico melhora as funções musculares. Desta maneira, ocorrerá uma diminuição na tendência do indivíduo em desenvolver a fadiga.

É por isso que há toda uma preocupação com treinos regenerativos. Quanto melhor for feita essa regeneração, mais rápido o jogador de futebol estará pronto para a próxima partida. Se não for um trabalho bem feito, haverá uma tendência a ter lesões musculares, articulares e cansaço cada vez mais frequente.

Esse artigo não tem a intenção de dar uma aula de fisiologia do exercício e sei que tem muitos "poréns", inclusive se for falar de desequilíbrios celulares que podem provocar e acelerar o processo de fadiga muscular.

Para quem quiser se aprofundar no assunto, estude sobre a formação da fadiga muscular e como os sistemas energéticos podem atuar no desequilíbrio celular.

Publicado em 05/11/12 e revisado em 26/04/2020

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