Alterações fisiológicas na altitude





A menor PO2 na altitude desencadeia diversas respostas fisiológicas no ser humano para ele suportar o ambiente hipóxico dessa região. Quanto maior a altitude, mais intenso é o estresse no indivíduo. A literatura classifica a altitude em baixa (até 1200 m), em média (1300 a 2400 m), em elevada (2500 a 4300 m), em muito elevada (4400 a 5500 m) e em extrema (5600 a 8850 m)12,13. Portanto, o treinador precisa conhecer as alterações fisiológicas imediatas e a longo prazo no esportista que vai disputar e/ou treinar na altitude, com o intuito de planejar uma aclimatação adequada e um treinamento embasado cientificamente. Tanto a aclimatação e o treinamento deverão estar norteados pela periodização.

Nos sub-capítulos a seguir, serão explicados ao professor de Educação Física as respostas fisiológicas imediatas e a longo prazo causadas no atleta pelo ambiente hipóxico da altitude.

Alterações fisiológicas imediatas na altitude

Um dos ajustes fisiológicos imediatos acontecidos na altitude é a hiperventilação, ela ocorre para compensar a menor PO2. A menor PO2 arterial estimula o sistema quimiorreceptor14, que é composto por pequenos corpúsculos aórticos e carotídeos situados ao lado das artérias aorta e carotídea que se localizam no peito e pescoço. Esses corpúsculos possuem grande vascularização arterial e suas células neurais receptoras avisam a falta de O2 no sangue. Quando os corpúsculos aórticos e carotídeos são estimulados, seus receptores levam sinais pelos nervos vago e glossofaríngeo para o bulbo raquidiano.

Estes sinais chegam ao centro respiratório, e imediatamente ocorre o aumento na ventilação alveolar15, que faz com que a concentração do O2 alveolar fique próximo do ar ambiente da altitude e conseqüentemente facilita o transporte de O2 para os tecidos16. Outra vantagem do aumento da PO2 alveolar é que elimina a quantidade em demasia de CO2 que é expirado com a hiperventilação, evitando uma subida da potência do íon hidrogênio (pH) do sangue e reduzindo a concentração de íons hidrogênio (H+)17.

Esse aumento da PO2 alveolar normaliza em algumas semanas a respiração, ou seja, a hiperventilação é cessada. Caso o atleta vá para uma altitude maior, essa resposta fisiológica da hiperventilação acontece novamente para compensar a menor PO2. O fim da hiperventilação cessa em poucas semanas, caso isso não aconteça, pode levar o indivíduo a uma fadiga diafragmática18, merecendo que o esportista retorne a altitude mais baixa para evitar esse incômodo.

A maior resposta cardiovascular é outro ajuste fisiológico imediato. Nos estágios iniciais de adaptação à altitude, acontece aumento do débito cardíaco (Q) (Débito cardíaco: Quantidade de sangue bombeado pelo coração por unidade de tempo) e da freqüência cardíaca (FC)19. Enquanto que o volume de ejeção sistólica (VES) (Sístole: Porção do ciclo cardíaco na qual os ventrículos se contraem) (Volume de ejeção: Quantidade de sangue bombeado pelos ventrículos numa única contração) do coração se mantém inalterado20. O aumento do Q e da FC compensa a redução do O2 arterial, gerando maior fluxo sanguíneo para os músculos21. Esse aumento do Q e da FC proporciona uma modificação muito leve da pressão arterial (PA)22.

A cada 1000 m, o consumo máximo de oxigênio (VO2máx) reduz em 6 a 7%23, diminuindo para 80% no Monte Everest24. A queda do VO2máx está relacionada com a redução gradativa do Q, da FC máxima e de uma menor absorção de O2 para os tecidos (BOGAARD et al., 2002). Essa deterioração do VO2máx gera um maior esforço na altitude25, por exemplo, para um indivíduo pedalar numa carga de 100 watts numa bicicleta ergométrica, ele trabalha numa intensidade de 50% do VO2máx ao nível do mar e 70% do VO2máx quando está na altitude20.

Ajustes fisiológicos a longo prazo na altitude

Um dos ajustes fisiológicos a longo prazo na altitude é o reajuste ácido básico. Em regiões acima do nível do mar é necessário que o atleta realize uma ventilação pulmonar aumentada (respiração) para compensar a menor quantidade de moléculas de O2 por litros de ar desse local26. Essa respiração aumentada ocasiona uma maior expiração de dióxido de carbono (CO2) que acarreta aumento da potência do íon hidrogênio (pH) do sangue, tornando alcalino27. Para o organismo reverter essa condição fisiológica de desequilíbrio, a alcalose respiratória, o rim libera mais íon bicarbonato (HCO3ˉ) com o objetivo de manter o pH do sangue em valores normais, igual a 7.

Durante a exposição do atleta na altitude, era esperado maior acúmulo de lactato [La], pelo fato do esportista realizar um maior esforço em virtude de uma falta de O2 do ambiente28. Porém, foi evidenciado que na altitude o praticante da atividade física ou da modalidade, apresenta uma menor concentração de [La]29. Não existe explicação precisa para esse fenômeno, mas parece que é por causa de uma redução do HCO3ˉ na atividade do equilíbrio ácido básico, onde o músculo envolvido no exercício limita o acúmulo de H+, conseqüentemente a produção de energia pelo metabolismo glicolítico e a formação do ácido láctico (AL) são reduzidas9.

Outra provável causa, é que a redução do [La] está associada a uma menor concentração de adrenalina, que fornece uma menor estimulação à glicogenólise (degradação do glicogênio em glicose para obtenção de energia), logo o metabolismo glicolítico produz menos AL, gerando posteriormente pouca quantidade de [La]30. Essa contradição fisiológica é denominada de parodoxo do [La]31.

As alterações hematológicas são ajustes fisiológicos importantes no atleta na altitude para ele transportar O2 para os tecidos. O volume plasmático tende cair na altitude por causa da mudança do equilíbrio hídrico e da perda de água na respiração5, mas acontece um aumento na concentração de hemácias (Hemácia: Também é chamada de eritrócito ou glóbulos vermelhos, possui cor vermelha característica do sangue e tem função de transportar O2 para os tecidos) e de hemoglobina (Hb) (Hemoglobina: Molécula encontrada nas hemácias que possui ferro e proteína, capaz de ligar-se ao O2) que leva O2 para o esportista32. O aumento das hemácias ocasiona uma maior viscosidade do sangue, gerando em um maior trabalho cardíaco19. Aos poucos, o volume plasmático tende retornar aos níveis normais, mas a quantidade de hemácias e de Hb continua alta para levar O2 para os tecidos e compensar uma menor PO2.

As regiões acima do nível do mar causam modificações na composição corporal, nas enzimas e nas células do atleta33. É aceita a hipótese que a exposição do indivíduo na altitude aumenta a superfície de capilares para melhor abastecimento de sangue com O234. A altitude também desencadeia diminuição das mitocôndrias e a redução de algumas enzimas oxidativas (citrato sintase, sucinato desidrogenase e citocromo oxidase)35. O atleta na altitude está sujeito a uma modificação na composição corporal porque diminui a sua massa muscular, reduz as fibras rápidas e lentas, acontece decréscimo da massa corporal total e o percentual de gordura pode diminuir9,36. Várias dessas alterações podem comprometer a performance do atleta em regiões acima do nível do mar.

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