Fisiologia do exercício aplicada ao futsal


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O planejamento do processo de treinamento tem por objetivo o controle da relação estímulo-resposta por parte do corpo dos atletas, frente aos estímulos decorrentes do treinamento (não importando a natureza do mesmo) ao qual o atleta é submetido. Estas respostas orgânicas são diretamente influenciadas por mecanismos fisiológicos que em situação de exercício respondem de modo diferente que quando o individuo está em repouso. Obter e manter estas respostas fisiológicas são o objeto da planificação do treinamento físico em qualquer modalidade, inclusive no futsal.

Ao planejarmos o período preparatório deve-se buscar conhecer os pontos fortes de cada atletas a disposição na equipe e se seu perfil físico, baseado nos dados colhidos correspondem aos necessários para a sua posição em quadra. As principais capacidades físicas inerentes ao desporto futsal são a resistência, a velocidade, a força e a flexibilidade. A elas somam-se as que vão compor/definir os aspectos técnicos dos atletas, as capacidades coordenativas (coordenação, ritmo e equilíbrio) que também são capacidades físicas, mas não podem ser classificadas como objeto especifico da preparação física nos desportos coletivos com bola, a exemplo do futsal.

As respostas fisiológicas são fatores que limitarão o desempenho do atleta frente às solicitações físicas da movimentação e execução dos fundamentos técnicos do futsal. As principais variáveis fisiológicas que influenciam a performance no futsal são:

Déficit de oxigênio;
Produção/remoção de lactato;
Capacidade aeróbica (VO2máx);
Reservas musculares e orgânicas de substratos energéticos.


Déficit de oxigênio
O déficit de oxigênio em atividade físicas cuja intensidade varia de moderada a forte. Nesse tipo de atividade temos a solicitação da capacidade cardiorrespiratória em percentuais iguais ou superiores a 70% do VO2máx. (unidade de referencia da captação de oxigênio pelos pulmões).

As atividades em déficit de oxigênio tendem a solicitar prioritariamente o sistema energético glicolítico anaeróbico, que tem como principais combustíveis o glicogênio muscular e a glicose plasmática (presente na circulação cardiovascular).

Como as reservas tanto musculares quanto plasmáticas (uma vez que o fígado não consegue disponibilizar glicose na mesma velocidade do consumo pelo sistema glicolítico anaeróbico durante o exercício) são limitadas e o acido lático produzido pelas reações metabólicas de "queima' da glicose, aumenta o pH do organismo reduzindo a eficiência das reações metabólicas".

Isto faz com que as atividades em situação de déficit de oxigênio não consigam ser mantidas por períodos relativamente longos (no máximo 3 a 6 minutos a dependem da intensidade da atividade).

No caso especifico do futsal a maioria dos deslocamentos em quadra se dão em situação de déficit de oxigênio ou em recuperação ativa do déficit adquirido anteriormente. Mas deve-se salientar que esta recuperação acontece de modo incompleto, ocasionando um acumulo do déficit de O2 anterior e do acido lático resultante do trabalho na situação de déficit, até atingir concentrações que vem a impossibilitar o desempenho ideal/normal do jogador de futsal.

O treinamento com vistas ao melhor desempenho do atleta em situações de déficit de oxigênio seria aquele que propiciasse tanto o aumento do VO2máx. (capacidade cardiorrespiratória) quanto da resistência anaeróbica.


Sugestões de atividades para treinamento em situações de déficit de oxigênio
Método aeróbico (Cooper) – aumento do VO2máx. ;
Método intervalado - aumento do VO2máx. e da resistência anaeróbica;
Tiros (sprints) de 400 a 800 metros (limite de 800 metros) – aumento da resistência anaeróbica;
Tiros (sprints) de 30 a 50 metros em aclives.


Produção/remoção de lactato
A composição dos músculos dos membros inferior (pernas) pode ser um fator que interfere tanto positivamente quanto negativamente. O tipo de fibra presente em maior quantidade nos membros inferiores, pode determinar qual característica do atleta de futsal, será predominante no seu desempenho a nível físico.

Os atletas mais rápidos da equipe, provavelmente possuem uma predominância de fibras musculares glicolíticas na sua musculatura inferior. Este fator possibilita a eles bons desempenhos em atividades que envolvem manifestações de força explosiva e velocidade (como o futsal), mas tem geralmente a continuidade da sua performance reduzida no decorrer da partida.

Muito disso se deve a interação da duração do jogo de futsal, com o principal subproduto das reações metabólicas para obtenção de energia a nível muscular, o acido lático. As fibras glicolíticas produzem dada a natureza anaeróbica das suas reações metabólicas para obtenção de energia, grandes quantidades de acido lático, que no decorrer da partida terminam por comprometer o rendimento do atleta, quando o mesmo é utilizado por longos períodos sem repouso durante o jogo.

Os treinamentos de resistência anaeróbia são a melhor maneira de atenuar este problema, pois com o treinamento não é diminuída a taxa de formação do acido lático no organismo do atleta. O principal efeito do treinamento de resistência anaeróbica é o aumento da tolerância do organismo a altas concentrações de acido lático, alem de aprimorar os mecanismos de remoção do mesmo da musculatura esquelética e sua recuperação a nível hepático.


Sugestões para o treinamento de resistência anaeróbica
Método intervalado – utilizando intervalos longos;
Tiros (sprints) de 400 a 800 metros (limite de 800 metros) – com repouso de 3 a 5 minutos entre os tiros. (6 a 8 tiros por sessão de treinamento no máximo 2 vezes por semana).


Capacidade aeróbica (VO2máx.)
A capacidade aeróbica é um fator primário nos aspectos fisiológicos que envolvem o desempenho de atletas nas diferentes modalidades esportivas. Muito disso se deve a necessidade orgânica do organismo do oxigênio, para as ações de recuperação dos sistemas funcionais, reservas energéticas musculares e remoção do acido lático.

O VO2max. é a constante normalmente utilizada para referenciar a capacidade aeróbica de um individuo (sendo ele atleta ou não), os níveis de condicionamento cardiorespiratorio dependem diretamente das capacidades pulmonares e circulatórias. Os exercícios contínuos de intensidades moderada com duração media ou prolongada tendem a desenvolver tanto a capacidade pulmonar quanto à circulatória.

Uma vez que as atividades prolongadas estimulam alvéolos normalmente inertes, aumentando a capacidade de absorção de oxigênio por parte dos pulmões. Já a necessidade dos músculos de receber nutrientes e remover catabólitos (material resultante das atividades de queima ou produtos prejudiciais ao metabolismo celular), promove o aumento da microcirculação sanguínea e dos valores ejetados ao coração ao final de cada ciclo cardíaco.

O principal fator limitante na elevação do VO2max. de um atleta quando ele atinge um determinado nível parece ser a pressão sistólica do individuo, o que nos leva a crer que o volume ejetado pelo coração só pode ser modificado até certo nível. Tornando assim uma variável de manipulação limitada, apesar da sua importância para o desenvolvimento e aprimoramento das capacidades físicas de um atleta.

Normalmente a capacidade aeróbica nos esportes é mais comumente chamada potência aeróbica quando envolve manifestações elevadas do VO2max., abaixo ou próximas ao limiar anaeróbico.


Sugestões para o treinamento da capacidade aeróbica

Método aeróbico (Cooper);
Método intervalado (utilizando intervalos curtos);
Fartlek;
Corridas em praias ou bosques.


Reserva musculares e orgânicas de substratos energéticos

As reservas musculares e orgânicas de substratos energéticos são fundamentais para o desenvolvimento das capacidades dos atletas e apresentação do seu melhor rendimento durante a performance desportiva. Muitas vezes o aspecto nutricional é o diferencial para uma excelente performance dos atletas a sua disposição no plantel.

A dupla jornada tão comum nos atletas de futsal em vários paises, quando acompanhada de uma alimentação desequilibrada pode ser a razão porque um "provável" grande talento não consiga realizar em quadra as exibições que a equipe espera dele. O problema nutricional fica mais evidente se analisarmos que poucas equipes contam co um nutricionista no seu quadro de profissionais.

As carências nutricionais podem se apresentar de varias formas desde de uma simples queda no rendimento, quanto no aparecimento de lesões por "over use" ou um estado de sobretreinamento. O organismo já possui taxas normais de armazenagem de substratos para o seu funcionamento normal, com o treinamento podemos "obrigar" pequenas alterações nessas taxas. Um outro recurso para promovermos alterações nos níveis de armazenagem é a suplementação e reposição pós-exercício de alguns elementos, tais como eletrólitos, água, creatina (este antes e pós-exercício para acelerar a recuperação) e repositores energeticos.

Os sistemas energéticos possuem uma capacidade e força de produção de ATP (moeda energética do organismo) frente a um solicitação por parte do corpo em uma atividade moderada ou intensa, como no caso dos atletas de futsal durante uma partida. A capacidade e a força dos sistemas energéticos para produção de ATP é a seguinte:

Capacidade Força
(mmol ATP kg dm-¹) (mmol ATP kg dm-¹ s-¹)
Sistema fosfagênico 55-95 9
Sistema glicolítico 190-300 4,5
Combinado 250-370 11

Os dados acima estão expressos em massa seca muscular por kg (dm) e baseiam se em provisões estimativas de ATP durante exercícios de alta intensidade do músculo vasto lateral (quadríceps). Extraído de MAUGHAN, GLESSON e GREENHAFF (2001).

Já a capacidade de armazenagem de glicogênio no corpo humano (por kg de massa úmida):

Massa muscular 14-18g
Fígado 80-100g

Adaptado de MAUGHAN, GLESSON e GREENHAFF (2001).

A capacidade estocagem de glicogênio no organismo por mais que tentemos ampliarmos essa capacidade esbarramos na incapacidade de armazenagem acima dos valores acima devido ao glicogênio necessitar reter 3g de água para sua armazenagem (não importando se no músculo ou no fígado).

No quadro abaixo segue a capacidade de armazenagem de energia no corpo humano, dos diferentes "combustíveis" (substratos) utilizados pelos sistemas energéticos. O quadro representa a média humana para um individuo com 70 kg, tendo um percentual de gordura de 15%.

Peso (g) Energia (kJ)
Glicogênio fígado 80 1280
Glicogênio muscular 350 5600
Glicose sanguínea 10 160
Lipídios 10.500 388.500
Proteína 12.000 204.000

Extraído de MAUGHAN, GLESSON e GREENHAFF (2001).

Sugestões para o aumento das reservas musculares e orgânicas

Suplementação de creatina;
Orientação nutricional (ajustar a alimentação às necessidades do atleta);
Uso de repositores eletrolíticos;
Recuperação pós-atividades (treinos, jogos, tarefas cotidianas etc.);
Utilização de complexos vitamínicos.


Autor: Ailson Santana - ailsonsantana@hotmail.com
- Licenciado em Educação Física pela UFBA
- Preparador físico das equipes principal, juvenil e feminino do Sindicato dos Bancários da Bahia
- Coordenador do Artemquadra

 

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