Capacidades motoras para um goleiro de handebol







As qualidades físicas mais importantes para o goleiro de handebol, classificadas por ordem de importância são: velocidade, coordenação e destreza, flexibilidade, força, potência e resistência. O desenvolvimento dessas valências pode oferecer sustentação para o aprendizado e o aprimoramento dos elementos técnicos e táticos característico do goleiro.


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Velocidade motora


A velocidade motora é definida por Zaciorsky (apud BARBANTI, 2001), como uma qualidade física no movimento humano, a capacidade de executar, num espaço de tempo mínimo, ações motoras sob exigências dadas. Barbanti (2001), diferencia a manifestação velocidade motora nos jogos coletivos em: velocidade de reação, velocidade de locomoção (deslocamento), velocidade de movimentos acíclicos (agilidade) e velocidade de força.


Figura 1. Manifestação da velocidade motora nos jogos coletivos (extraído de BARBANTI, 2001, p. 69)

Barela (1998) atribui o aprimoramento da velocidade sob todos os pontos de vista e, predominantemente a velocidade de reação e a de deslocamento em pequenas distâncias como fundamental para o sucesso do goleiro de handebol. Sabendo da importância deste requisito motor, faz-se necessário um estudo mais aprofundado de cada forma de manifestação da velocidade motora presentes nas ações dos goleiros de handebol.


A velocidade motora de reação é definida por Weineck (1999) como a capacidade de reação a um estímulo num menor espaço de tempo. Importa neste espaço de tempo a captação do estímulo pelos órgãos sensoriais, a condição para os locais de percepção central, os fenômenos de percepção central e os impulsos até o estímulo no músculo, onde há a representação do movimento. O tempo de reação é positivamente influenciado pela concentração, atenção, aquecimento, e por uma tensão pré-muscular. Mas também é afetado de forma negativa por fatores como frio, barulho e uma concentração deficiente. (BARBANTI, 2001).

Temos dois tipos de velocidade de reação: a velocidade de reação simples, a velocidade de reação complexa e dentro desta última encontramos a velocidade de reação por escolha.

A velocidade de reação motora simples consiste na resposta por um movimento anteriormente conhecido, por um sinal, sendo que a maneira mais conhecida para desenvolvê-la é através de uma reação repetida o mais rápido possível a um sinal repentino ou a uma mudança no meio ambiente. Os exercícios mais comuns utilizados para desenvolver esta capacidade são as saídas de todas as formas, com mudança sinalizada da direção do movimento, jogos de reação e jogos com bola (BARBANTI, 2001).

Já, a velocidade de reação motora complexa é a que mais aparece nos jogos desportivos coletivos e caracteriza-se pela antecipação da trajetória de vôo da bola, ou da ação dos adversários. Esta pode ser avaliada quando observamos as ações de um goleiro, por exemplo, durante um ataque ele precisa ver a bola, calcular a sua direção e sua velocidade de vôo, escolher a ação, e poder realizar o plano. Quando ele consegue prever a trajetória de vôo da bola fica maior o tempo de reação facilitando a sua intervenção. Os jogos com bolas pequenas, jogos de reação com diminuição do tempo de aparecimento do estímulo ou aparecimento repentino do objeto são exercícios que ajudam a desenvolver a velocidade de reação motora complexa. Outro tipo de velocidade de reação motora complexa é a reação por escolha, que está ligada à escolha de uma reação de movimento necessária a possíveis ações que resultam do comportamento do adversário, dos parceiros ou da situação. A dificuldade deste tipo de reação reside no fato das numerosas mudanças de situação no jogo e no comportamento dos adversários. Para alguns autores, dentre eles Zaciorsky (apud BARBANTI, 2001), os atletas de alto rendimento reagem quase que instantaneamente, de forma parecida com a reação simples, isto só é possível, porque esses atletas reagem mais nas ações preparatórias que precedem os movimentos e nem tanto aos movimentos do adversário (BARBANTI, 2001).

Como no handebol a velocidade da bola nos arremessos é muito alta, é necessário que o goleiro tenha uma grande capacidade de reação (principalmente a velocidade motora de reação complexa por escolha) para impedir que esta atinja a sua meta. Em função disto é necessário à automatização dos movimentos (principalmente os defensivos), através de exercícios específicos e da antecipação das ações do adversário, reduzindo assim o tempo de sua reação.

Para Bayer (1987), a velocidade de reação é um fator essencialmente hereditário e pouco pode ser melhorado, apesar disto, quando o jogador aprende a perceber certos elementos significativos do jogo ele pode antecipar-se.

Tabela 2. Velocidade da bola em lançamentos ao gol (extraído de BAYER 1987, p. 348)


Outra forma de manifestação da velocidade, que é utilizada nas ações dos goleiros de handebol principalmente nos deslocamentos laterais e saídas da área, é a velocidade de locomoção (deslocamento); esta também é conhecida como velocidade máxima ou velocidade de sprint. Grosser (apud BARBANTI, 2001), aponta que o aproveitamento da valência acima depende do desenvolvimento da rapidez, do nível de força dinâmica, do domínio da técnica do movimento, da elasticidade muscular, da freqüência do movimento e da coordenação, mas esta forma de velocidade é independente das demais. Assim para a potencialização da velocidade de locomoção, faz-se necessário um treinamento sistemático voltado para a formação da alternância rítmica da contração e relaxamento muscular. O treinamento deve promover uma contração muscular rápida e forte e, também, um melhor relaxamento da musculatura. Considere-se que, aqui, a fase de relaxamento não é tão importante apenas para o metabolismo, mas para a recuperação dos processos nervosos. Como forma de treinamento da velocidade máxima, devem ser aplicados exercícios executados na maior rapidez possível, mas para isso eles devem estar bem dominados, para que durante a execução o maior esforço esteja concentrado na velocidade de execução e não na técnica dos movimentos (ZACIORSKY apud BARBANTI, 2001). A duração dos exercícios não deverá ser longa e as pausas entre os estímulos devem ser completas, pois neste tipo de treinamento é necessária a recuperação total do fosfato de alta energia (ATP-CP), principal fonte energética dos exercícios em contração máxima. No treinamento sugere-se realizar exercícios de coordenação e inervação (skippings, dribbling, combinações salto-sprint etc.), corridas lançadas, corridas com velocidade variada, corridas em descidas etc.

A velocidade de movimentos acíclicos ou agilidade apresenta-se de maneira relevante no deslocamento dos goleiros de handebol, esta é definida por Barbanti (2001) como a realização de movimentos rápidos com mudança de direção e depende do mecanismo biomecânico da musculatura, do corte transversal dos músculos, da elasticidade muscular, da flexibilidade articular, da coordenação e do perfeito domínio da técnica do movimento.



De acordo com Weineck (1999), o momento ideal para o desenvolvimento da agilidade, ocorre na infância escolar tardia (a partir dos dez anos até a entrada na puberdade), constatação também realizada por Thiengo e Silva (2004), pois nesta etapa da vida ocorre a maturação dos analisadores corporais e o sistema de alavancas corporais apresenta boa proporcionalidade, caracterizando a idade como a fase da "agilidade felina". Assim, aconselha-se que o treinamento nesta faixa etária seja desenvolvido objetivando esta valência, não sendo diferente com os jovens goleiros de handebol.

Além das manifestações da velocidade acima citadas, temos a velocidade de força (está será abordada mais adiante no tópico potência) e a velocidade específica do jogo. Esta última é caracterizada pela capacidade de executar os movimentos ou deslocamentos específicos do jogo no menor tempo possível. No treinamento, para desenvolver a velocidade específica do jogo é necessário levar em consideração os seguintes aspectos



os exercícios devem ser executados após um aquecimento, com preparação de todo o corpo para as ações motoras;


o tempo de duração dos exercícios deve ser suficiente para que os mesmos sejam executados sem a diminuição da velocidade máxima;


o número de repetições deve ser significativo para que não seja permitida uma diminuição da velocidade de execução;


a duração dos períodos de descanso entre as repetições deve ser o necessário para que a próxima série de exercícios comece com a mesma velocidade;


os exercícios de velocidade devem ser executados na primeira parte da sessão de treinamento. Se realizados quando há fadiga, desenvolve-se a resistência de velocidade, não a velocidade.

Além desses elementos, são indicados jogos de reação de todas as formas, saídas de todas as formas, acelerações, jogos com bolas em campos com dimensões menores ou quadra menores, corridas curtas com saídas variadas, corridas com mudança de direção etc. (BARBANTI, 2001)
Coordenação e destreza



Barela (1998) afirma que a coordenação é um requisito indispensável a um goleiro, o bom ordenamento dos segmentos, a transformação de posições antitécnicas em posições técnicas e o perfeito domínio da bola são dependentes da coordenação e da destreza.



Segundo Weineck (1999), as capacidades coordenativas são determinadas sobretudo pelo processo dos movimentos e devem ser regulamentados. Estas capacidades permitem ao atleta manifestar ações motoras em situações previsíveis (estereótipos) e imprevisíveis (adaptação), além de desenvolver o aprendizado e o domínio de movimentos nos esportes, diferenciando-se em capacidades potenciais e adquiridas. As capacidades potenciais referem-se a requisitos básicos gerais para o desempenho em diversos movimentos, enquanto que as capacidades adquiridas referem-se aos movimentos já aprendidos e parcialmente automatizados.



Ainda seguindo Weineck (1999), dentro das capacidades potenciais temos as capacidades gerais e as capacidades específicas. As gerais estão relacionadas com as manifestações em diversos setores da vida cotidiana e esportiva, de modo que qualquer movimento possa ser executado de modo eficiente e criativo. Já, as capacidades potenciais específicas da coordenação formam-se no contexto de uma modalidade esportiva específica e representam a possibilidade de variação em uma determinada técnica esportiva, ela é caracterizada por movimentos específicos para as modalidades esportivas. Dessa forma as capacidades coordenativas são requisitos para o controle de situações que requerem reações rápidas. A habilidade é de grande importância na profilaxia de lesões (permite evitar tombos, colisões e etc.), sendo também a base para a capacidade de aprendizado sensorial e motor, facilitando o aprendizado motor de movimentos difíceis e complexos, característicos dos goleiros. Além disso, as capacidades coordenativas permitem que um movimento seja executado com economia e precisão, permitindo num segundo momento o aprendizado de novas técnicas esportivas e correção de movimentos já automatizados.



Os componentes das capacidades coordenativas são: capacidade de adaptação motora, capacidade de diferenciação e controle, capacidade de reação, capacidade de equilíbrio, capacidade de ritmo, assim como capacidade de combinação e concatenação de movimentos. De modo geral pode-se dizer que tal capacidade apresenta seu desenvolvimento máximo por volta dos sete anos até o início da puberdade, pois nesta idade observa-se um rápido amadurecimento do sistema nervoso central, e, paralelamente uma melhor função ótica, acústica e do processamento de informações, de modo a facilitar a execução de movimentos mais difíceis. Assim torna-se necessário o treinamento oportuno das capacidades coordenativas, pois este será decisivo para o nível de desenvolvimento atingido posteriormente dentro da modalidade escolhida.

Conclui-se que, para o sucesso esportivo em modalidades que requerem movimentos difíceis e complexos, o desenvolvimento das capacidades coordenativas no período ótimo da aprendizagem é o primeiro passo para a aquisição de um repertório motor amplo que posteriormente será especificado dentro da função atribuída ao goleiro. Em outras palavras, o importante no início da vida esportiva é explorar e desenvolver de forma ideal as capacidades coordenativas, para que posteriormente se construa os gestos esportivos específicos da posiçã
Flexibilidade



A flexibilidade é definida por Weineck (1999) como: "é a capacidade e a característica de um atleta de executar movimentos de grande amplitude, ou sob forças externas, ou ainda que requeiram a movimentação de muitas articulações" (p. 470). O autor ainda destaca que esta capacidade é um requisito (componente) elementar para uma boa execução de movimentos sob os aspectos qualitativos e quantitativos, pois com o aumento da flexibilidade, os exercícios podem ser realizados com maior amplitude de movimentos, maior força, maior rapidez, com mais facilidade, além dos movimentos serem executados de forma mais fluente e eficiente.

No treinamento da flexibilidade com goleiros de handebol deve-se buscar a maximização desta valência física, tanto na forma estática quanto dinâmica, pois as defesas como a chamada de "X" e as defesas realizadas em bolas baixas, necessitam de uma boa amplitude de movimento. A ausência do desenvolvimento desta capacidade física pode contribuir para a ocorrência de estiramento excessivo da musculatura e outras lesões no aparelho locomotor

Força


Na teoria do treinamento, a força é entendida como pressuposto para o rendimento que permite superar ou se opor a uma resistência. Como grandeza física, segundo a Lei de Newton, ela é o produto da massa pela aceleração, no entanto, ao referir-se ao movimento esportivo, pode-se distinguir a força interna (produzida pelos músculos, ligamentos e tendões) e a força externa (que age externamente ao corpo humano, por exemplo: a gravidade, o atrito, a resistência do ar, a oposição exercida por um adversário, ou um peso que se queira levantar). Essa capacidade de exercer tensão contra uma resistência não é equiparável ao conceito da física, por isso, em treinamento físico, usa-se o termo capacidade de força. A terminologia esportiva diferencia principalmente a capacidade de força máxima, a capacidade de força rápida e a capacidade de resistência de força (BARBANTI, 2001).

A capacidade de força máxima define-se como a força máxima que pode ser desenvolvida por uma contração muscular máxima, podendo ser dinâmica ou estática. A capacidade de força rápida (potência, velocidade de força ou força explosiva) consiste em superar uma resistência externa ao movimento com elevada rapidez de contração. E por fim a capacidade de resistência de força é a capacidade de opor-se à fadiga no emprego repetido da força, isto é, realizar um esforço relativamente prolongado com emprego de força (BARBANTI, 2001).

O treinamento da força pode ser geral ou específico. Treinamento geral quando se usam formas de movimento diversas daquelas típicas de jogo ou atividade física, servindo para reforçar os setores musculares que não são suficientemente solicitados no treinamento especial. Este tipo de treinamento deve compor a base para suportar as cargas de treinamento especial. Barela (1998) destaca o desenvolvimento da força básica nos goleiros como alicerce das outras manifestações desse requisito, sendo que esta deve ser desenvolvida de forma ótima e não máxima. Como treinamento de força específico, entende-se os exercícios que permitem a imitação completa ou parcial das formas de movimentos realizados em competição e jogo, o importante neste tipo de treinamento é que se controle a coordenação dos movimentos, em outras palavras, a estrutura técnica do movimento não deve ser perturbada pela sobrecarga. Este tipo de treinamento só deve ser realizado quando houver bom domínio da técnica (BARBANTI, 2001).

Os esportes coletivos são caracterizados por movimentos de força rápida como mostra a figura abaixo.
 


Figura 2. Características da força rápida nos jogos coletivos do ponto


de vista mecânico (extraído de BARBANTI, 2001; p. 57).

De acordo com a figura, a força explosiva no handebol manifesta-se de diferentes formas, mas, para os goleiros interessa principalmente a força de lançamento e de saltos, tornado importante o desenvolvimento da impulsão em diversas formas, pois a utilização dos saltos é uma prática constante nas ações motoras dos goleiros de handebolResistência



Entende-se por resistência motora, a capacidade de executar um movimento durante um longo tempo sem a perda aparente da efetividade do movimento. A qualidade da resistência é determinada pelo sistema cardiorrespiratório, pelo metabolismo, pelo sistema nervoso, pelo sistema orgânico, pela coordenação dos movimentos e pelos componentes psíquicos. A resistência não é apenas importante apenas para o rendimento em esportes competitivos, mas é um fator decisivo para o treinamento e para a recuperação rápida após os treinamentos intensos (BARBANTI, 2001).



Existem diversas classificações ao redor da resistência dentro da teoria do treinamento, mas, a que chama atenção no treinamento de goleiros de handebol é a resistência específica. Ela é entendida como a capacidade de resistir ao cansaço em função de uma determinada atividade e deve ser desenvolvida de acordo com as exigências do jogo ou da competição, sendo importante desenvolver esta qualidade correspondente à coordenação de exercícios executados no jogo.

Durante maior parte do jogo os goleiros realizam a seus deslocamentos utilizando o metabolismo aeróbio, mas durante as contrações explosivas para a realização das defesas a principal via energética é a utilização de ATP-CP. Neste sentido, é preciso desenvolver a resistência aeróbia de uma forma ótima, pois nos momentos de repouso, (i.e. entre um ataque e outro) esta contribuirá para a recuperação mais rápida, além de retardar a fadiga ao longo do desenrolar da partida, diminuindo os erros técnicos e táticos, manipulando de forma satisfatória os movimentos durante o jogo.

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