Na ginástica artística existe um mito de que meninas que praticam o esporte não crescem tudo que poderiam. No entanto, uma pesquisa da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP realizada com 51 ginastas, ex-atletas de alto nível, revelou que a grande maioria alcançou ou superou o potencial de estatura esperado.
O professor Raul Alves Ferreira Filho, que também foi técnico de atletas de destaque durante 15 anos, colheu dados de 51 ginastas e de seus familiares para verificar se elas haviam atingido a altura prevista por parâmetros genéticos. Foi constatado que 70,58% igualaram ou superaram a estatura-alvo, sendo que a média de superação foi de 2,4 cm.
A ginasta que registrou maior diferença apresentava 15,5 cm a mais do que a altura esperada; e a que apresentou menor diferença tinha 0,5 cm a mais. As que não atingiram a estatura-alvo (29,41%) ficaram em média 3,4% menores do que a estatura prevista. A ex-atleta que ficou mais próxima do alvo tinha 0,02 cm a menos; e a que ficou mais distante tinha 8,5 cm a menos do que o resultado da fórmula.
Para demonstrar que a questão genética é a mais importante na definição da altura final de uma pessoa, o pesquisador mediu as ex-atletas com um estadiômetro (aparelho para medir a estatura) de alta precisão. Ele colheu dados de familiares e aplicou a Fórmula de Tanner (altura do pai mais altura da mãe divididas por dois, menos 6,5 cm = altura da filha), criada pelo pediatra britânico James Mourilyan Tanner, estudioso do crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes, para prever a altura final. Em seguida, comparou a medida encontrada com a medida esperada.
Preocupação com a estatura
Na literatura sobre ginástica artística, também conhecida como ginástica olímpica, o professor afirma ter encontrado relatos sobre esta preocupação com a estatura entre o público leigo em todo o mundo, mas ressalta que no Brasil o mito é ainda mais forte: "Em minha atuação como treinador, tive mais de um caso de pais proibindo a menina de praticar o esporte baseados nesta crença, mesmo quando ela apresentava um grande potencial para se tornar uma atleta de alto nível, que pudesse atuar em competições internacionais e ser convocada para a seleção".
Não há ligação entre a modalidade e problemas de crescimento. O que acontece é que as ginastas que são mais baixas por uma característica própria apresentam um biotipo mais favorável à execução dos movimentos. "Veja por exemplo o caso de Daiane dos Santos, com 1,46 m: é a única ginasta do mundo a executar o duplo twist estendido, que consiste em dois giros no ar com o corpo totalmente estendido para frente.
É impossível imaginar uma atleta com 1,80 fazendo isso. Um físico de menor porte atende melhor às exigências da biomecânica para fazer alavancas e vencer a inércia", explica Alves Ferreira. Também comprovando este argumento, cita a experiência que teve no treinamento das irmãs Graziella (1,60 m) e Renata Guerra (1,70 m), em que a mais baixa alcançou um desempenho bem melhor do que a mais alta.
Maturação tardia
Além da baixa estatura dos pais, em geral as meninas que se destacam na ginástica artística apresentam maturação tardia, tendo a primeira menstruação (menarca) após os 16 anos, quando a média entre as adolescentes brasileiras é que isso ocorra com 12,3 anos. "As meninas que ainda não tiveram a menarca não passaram pela fase de maior crescimento, e também possuem quadril estreito, seios ainda não desenvolvidos e pouca gordura corporal, condição que também favorece a execução dos movimentos exigidos" acrescenta o professor.
Ele lembra o caso da romena Nadia Comãneci, vencedora de cinco medalhas de ouro em olimpíadas e a primeira a receber uma nota dez numa competição olímpica de ginástica artística. "Aos treze anos, quando em atividade, a atleta media 1,54 m, e atualmente tem 1,64 m."
Autora: Luiza Caires.
Fonte:Agência USP de Notícias.
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