A lesão esportiva é um problema comum no cotidiano esportivo, desta forma deve ser amplamente estudada por profissionais da saúde, dentre os mesmos estão os psicólogos, os quais devem compreender como a mesma pode influenciar o rendimento do atleta e sua qualidade de vida. São diversos os fatores que estão atrelados a uma lesão e cada atleta possui suas particularidades que precisam ser entendidas pelo psicólogo que deseja tornar ótimo o tratamento a fim de recuperar o atleta lesionado visando sua melhora integral, portanto é preciso dissecar este tema de forma cautelosa e bem apurada.
Atualmente, a participação nos mais diversos esportes, sejam estes de alto rendimento, lazer ou recreação, vem aumento de forma significativa e concomitante a esta crescente adesão das pessoas as atividades desportivas observa-se o aumento de lesões esportivas dos mais variados tipos (SMITH, 1996). Portanto, torna-se imprescindível que os profissionais da saúde possam estudar o tema com o intuito de auxiliar em todos os esportes para que os sujeitos possam lidar da melhor forma possível com a problemática que os acomete. Para tanto, o profissional precisa estar ciente que a grande maioria dos atletas, sejam estes de esportes de rendimento, lazer ou recreação buscam nos eventos competitivos ou recreativos seu rendimento máximo que somada com uma carga excessiva de trabalho nos treinamentos tem aumentado de forma significativa o número de lesões em desportistas (MENDO, 2002).
No que se refere às lesões esportivas sabe-se que há fatores psicológicos fortemente atrelados à predisposição a mesma, bem como ao tempo de reabilitação e ao retorno às atividades desportivas. Os fatores psicológicos também podem interferir no nível de sucesso dos processos de reabilitação (WEINBERG; GOULD, 2001). Outra questão que deve ser considerada e avaliada pelo profissional da saúde ao se deparar com uma lesão esportiva é que quando o atleta se lesiona, este problema é considerado pelo desportista de alto nível como um dos maiores fatores de stress esportivo (DE ROSE JR., 1999).
Buceta (1995) afirma que três tipos de avaliações psicológicas são essenciais a fim de garantir um adequado acompanhamento psicológico de um atleta após a lesão esportiva, são estas: a avaliação da lesão propriamente dita, a avaliação do impacto emocional da lesão esportiva, bem como a avaliação da adesão, do rendimento e do progresso do tratamento. Sabe-se que a avaliação da lesão propriamente dita é competência do médico esportivo, desta forma, cabe ao psicológico trabalhar de forma integrada com o mesmo para que possa obter informações essenciais para o seu trabalho. Além do médico, fisioterapeuta e outros profissionais também poderão ser importantes neste momento para que possam trocar informações e trabalhar de forma interdisciplinar visando uma ótima evolução do processo e o bem-estar do atleta. As informações advindas do técnico são de suma importância e permitem mapear a situação do atleta no contexto de treinamento e competições.
O psicólogo juntamente com a equipe que atua com o atleta lesionado deve compreender que a lesão é um dano causado por traumatismo físico sofrido pelos tecidos do corpo humano, as quais podem ser acompanhadas de experiências psicológicas que afetam o bem-estar do esportista lesionado e podendo vir a afetar, em algum nível, todos os que estão a sua volta. (ANDREOLI, WAJCHENBERG; PERRONI, 2003)
É fundamental compreender a classificação das lesões esportivas com o intuito de desenvolver o trabalho de acordo com o grau e intensidade do problema, ou seja, individualizar ao máximo o processo nos aspectos psicológicos. Guerrero (2001) classifica os tipos de lesão em leves, moderadas, graves, incapacidade desportiva e incapacidade funcional. As lesões leves são caracterizadas por traumatismos que necessitam de tratamento, mas não chegam a afetar o comportamento do atleta nos treinamentos nem mesmo nas competições. Já as moderadas chegam a provocar algum desconforto no treinamento e diminuem o rendimento do esportista em competições. As lesões graves, por sua vez, são caracterizadas por um período considerável de disfuncionalidade que esta diretamente relacionada com um ou mais meses de afastamento dos treinos e competições. O atleta pode precisar de internação hospitalar e, em alguns casos intervenção cirúrgica. A incapacidade desportiva refere-se às lesões que têm como conseqüência de sua gravidade, um tempo muito longo de recuperação, o que desfavorece que o esportista recupere o seu nível anterior a lesão de rendimento no esporte. Por fim, a incapacidade funcional caracteriza as lesões muito graves que são assinaladas pela permanente disfuncionalidade motora do atleta.
A contribuição de Andersen e Williams (1998) sobre a explicação do papel que os fatores psicológicos desempenham em lesões esportivas, sendo tal relação vista a partir de situações desportivas estressantes. Os autores observam que é importante complementar que o "estresse, entretanto não é o único fator que influencia lesões esportivas", junto com outros fatores como "de personalidade, história de estressores e recursos de controle influenciam o processo estresse e, por sua vez, a probabilidade de lesão" (WEINBERG; GOULD, 2001, p.420). Desta forma, a entrevista psicológica é um dos instrumentos importantes para que este possa mapear a real situação que o atleta vivencia.
O começo de uma lesão ocasiona, na maioria das vezes, conseqüências negativas tanto para a participação quanto para o rendimento do atleta no seu esporte. Desta forma, não é raro que o esportista apresente medo, tensão, fadiga, incredulidade, depressão, queixas somáticas (enjôos, perda de apetite, insônia, entre outras) e também dificuldade com o período longo de reabilitação e a restrição de atividades podendo a sentir uma sensação de ser dominado pela lesão esportiva. (BECKER JUNIOR, 2008; MAY, CAPURRO; STUOPIS, 1999).
De acordo com Becker Junior (2008) é preciso compreender que a lesão é um fator negativo e é um problema que pode acometer o desportista a qualquer momento. A lesão é uma das dificuldades que mais tende a preocupar a equipe técnica e, até mesmo, os torcedores. Em alguns esportes são permitidas jogadas mais fortes e violentas fazendo com que tenham maior risco de lesão do que outros.
Machado (2006) afirma que o medo é um aspecto interligado ao processo emocional do atleta, isto porque é uma emoção presente freqüentemente nos desportos e que pode ser decorrente de diversas causas, dentre elas o desportista pode estar com medo que do "fracasso que ameaça sua performance e carreira" (p.32). Além disso, não são raros atletas que possuem medos relacionados com contusões que poderão ameaçar suas carreiras, seja temporária ou definitivamente, por movimentos mal executados ou por jogadas de impacto.
A incidência repetitiva de lesões esportiva demonstra ser um fator indicativo da existência de necessidade de intervenção psicológica para com o atleta acometido pelo problema (MADDISON; PRAPAVESSIS, 2005). Desta forma, Rúbio (2007), afirma que o psicólogo do esporte tem como uma de suas funções acompanhar os atletas lesionados durante a sua reabilitação com o intuito de favorecer este processo e promover um melhor entendimento dos sentimentos experiênciados, assim como se busca vivenciar o problema de uma forma mais proativa.
Becker Junior (2000) assinala que algumas mudanças ocorrem na vida do desportista após a lesão, as quais englobam os aspectos desportivos, físico e psicossocial. Dentre as principais mudanças destacam-se no bem-estar físico a lesão física, a dor, o tratamento e a reabilitação, bem como as restrições físicas temporárias podendo existir mudanças físicas permanentes. Já no bem-estar emocional é comum observar trauma psicológico, ansiedade, depressão, sentimento de perda e ameaça à performance no futuro. O atleta também precisa lidar com as demandas emocionais do tratamento e da reabilitação. O bem-estar social, de acordo com Becker abarca possíveis perdas de importante papel social, separação da família, amigos e companheiros de time, um novo relacionamento com os profissionais do departamento médico e, em alguns casos, a necessidade de depender dos outros. O autor também engloba o autoconceito do desportista, no qual a sensação de perda de controle, alteração da auto-imagem, ameaça de metas futuras e até mesmo questionamento de valores morais, ameaça de perda da posição na equipe, necessidade de tomar de decisões sobre circunstâncias estressantes como fatores que podem sofrer mudanças após uma lesão esportiva.
A reação emocional de um atleta a uma lesão esportiva é similar àquela de pessoas que encaram a morte iminente, as quais são desenvolvidas por Kübler-Ross (1997). De acordo com essa visão da psiquiatra e abordada por Samulski (2009), atletas que se deparam com uma lesão geralmente seguem cinco fases: 1)Negação, 2) Raiva, 3) Barganha, 4) Depressão e 5) Aceitação. Embora, os esportistas possam apresentar diversas destas emoções em resposta à lesão esportiva, elas não seguem um padrão estereotipado pré-estabelecido. Nem todos os indivíduos passam pelos cinco estágios ou fases após a lesão, por isto é importante observar cada indivíduo na sua individualidade.
Segundo Becker Junior (2010) psicólogos estão ampliando seu trabalho com atletas utilizando técnicas com o intuito de recuperá-lo da falta de motivação, bem como da falta de energia, de estresse e com os próprios procedimentos do processo de reabilitação visando o retorno do atleta as competições. O autor afirma que as técnicas que estão sendo utilizadas são: manejo da dor e técnicas de imaginação e visualização visando diminuir a dor do atleta no período de recuperação. As técnicas de preparação psicológica e relaxamento também são utilizadas e objetivam o rendimento do desportista durante o período de recuperação.
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